De tempos em tempos, o Brasil é assolado por tragédias: ambientais , familiares, políticas. Estamos agora sob enxurradas. Não só a enxurrada das águas. Mas a enxurrada de escândalos de corrupção, enxurrada de injustiças, enxurrada de mentiras, enxurrada de inconstitucionalidades, enxurrada de acontecimentos comprovando a derrocada moral da sociedade brasileira. Isso tudo nos abala e nos coloca numa zona cinzenta em que não enxergamos formas de seguir. Fazer o quê? Como? Minhas ações fariam diferença num contexto macro em que nada do que pensamos eleger como prioridade é acatado pelas instituições que, em princípio, existiriam para defender a vontade popular? Então, puxamos o freio de mão e nos deixamos levar pela enxurrada de acontecimentos numa esperança inútil de que algo vai acontecer e vai nos salvar.
Pois foi neste limbo em que estive desde a última publicação. Tantos foram os acontecimentos trágicos que me senti entorpecida e novamente incapaz de reagir aos fatos. Mas para quem já sabe o tanto o que sabe é impossível calar-se e fazer-se de desentendida, fingindo ignorar que tudo, absolutamente tudo, está conectado. Tudo isso vai nos transformando em seres de que tudo desconfiam, inclusive de nossa capacidade mental: não estarei delirando, será que tudo o que sei não seriam realmente teorias conspiratórias, a degradação que enxergo não seria uma queda da minha capacidade cognitiva? Estaremos prisioneiros de uma ideia de nação que não vai se realizar? Será o Brasil o país do não acredito? Se sim, por que e para que continuar?
O fato é que, se aqui estamos aprisionados pela descrença, nada mais nos resta a não ser deixar a cova pronta e torcer para que soframos o mínimo até chegarmos lá. E cultivarmos a esperança de que nossos descendentes sejam capazes de lidar com um país destroçado. Mas, segundo Cara Dutton, personagem de Hellen Mirren, na série 1923, “ter esperança é render autoridade ao destino e confiar nos caprichos do vento”. E ainda:” Há três respostas para uma prece: SIM, AINDA NÃO, TENHO OUTRA COISA EM MENTE PARA VOCÊ. O desafio dos homens é confiar no ainda não e no tenho outra opção para você. Por isso, lutamos pelo que acreditamos até conseguir.”
Temos coisas em que acreditar? Na nossa capacidade de trabalho, nos valores que construímos, acreditar que dá para contribuir para este país dar certo, que há milhões de brasileiros que acreditam nisso também e que estão dispostos a dar o seu melhor para este país dar certo. Vimos a capacidade de pessoas nas últimas enchentes que assolaram o RS. Enxergamos coragem, determinação, capacidade de agir nos momentos mais desesperadores. Quando todos os governos e instituições abandonaram a população à própria sorte, o povo se apresentou e fez a diferença. O POVO PELO POVO. E é por causa dessa capacidade de reação dos brasileiros é que NÃO TEMOS O DIREITO de desistir.
O desafio para nós, brasileiros, é confiar que ainda não foi desta vez, mas que vamos lutar até conseguir. Como? Cada com as armas que tem: a voz, o conhecimento, a capacidade de liderança, de mobilização. Importante também ocupar espaços nas instituições, na cultura, na vida pública.
Então, aqui estou retomando, tentando entender esta plataforma para divulgar o que sei, o que preciso saber mais e tentar difundir esse conhecimento.